terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Carne: as suas várias facetas


A carne é descrita na Bíblia muitas vezes relacionada com uma forma de vida motivada pelos impulsos, orientada para a satisfação das vontades próprias, sem qualquer sujeição a vontade de Deus; em plena autonomia em relação a Deus e a orientação pelo Espírito Santo.

A carne ao longo das escrituras é traduzida por: incredulidade, ansiedade, religiosidade, trevas, soberba, orgulho, astúcia, vaidade da mente, necedade (de néscio), murmuração e concupiscências. Ao longo destas páginas irei descrever cada aspeto relacionado com a carne.

 

Incredulidade
A incredulidade é um impedimento para a ação de Jesus Cristo na vida no crente. O Senhor Jesus para responder aos nossos pedidos e orações, necessita de ver em nós fé. A incredulidade é o oposto da fé, e sem fé é impossível agradar a Deus.

Um dos principais de uma sinagoga, Jairo, depois de adorar a Jesus Cristo, clamou que O Mestre curasse a sua filha que estava a beira da morte. Jesus Cristo, foi com ele para salvar a menina da morte. Entretanto, chegaram os servos de Jairo comunicando-lhe que a sua filha já estava morta. Nesse instante, Jesus Cristo, afasta todo o pensamento de desespero da mente de Jairo e aconselha-o :“(…) Não temas, crê somente, e ela será salva.” Lc 8:50. A chegada do local onde habitava Jairo ”todos choravam e pranteavam. Mas Ele disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme ”Lc 8:52. Contudo a reação das pessoas presentes não foi de fé, mas sim de incredulidade: ”E riam-se dele, porque sabiam que ela estava morta” Lc 8:53.

Para curar a menina, Jesus ordenou que saíssem todos, expeto o pai e a mãe da menina, bem como os apóstolos mais íntimos (Pedro, João e Tiago).Isto porque O Senhor não opera milagres, em ambiente de incredulidade, mas sim em ambiente de fé.”(…) Tendo ele, porém, mandado sair a todos, tomou o pai e a mãe da criança e os que vieram com ele e entrou onde ela estava. Tomando-a pela mão, disse: Talita cumi! Que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta-te!” Mc 5:40-41. Então deu-se o milagre: a menina ressuscitou!

 

Ansiedade
A ansiedade, e muitas palavras sinónimas como cuidados, preocupações, temor, são descritos nas Sagradas Escrituras como uma atitude errada, a evitar pelo o cristão. A ansiedade tem um efeito terrível na vida espiritual do crente: a ansiedade paralisa a fé atuante na vida de qualquer pessoa.

Quando nos preocupamos, tiramos ao nosso Senhor o papel de nosso Deus e tentamos assumir responsabilidades que só podem ser assumidas pelo nosso Mestre. Jesus Cristo nos ensina diversas vezes através dos evangelhos “Não vos inquieteis”. Na tradução da Bíblia em grego (gr merimneo, que quer dizer literalmente dividir a mente) apercebemo-nos, que quanto estamos ansiosos ficamos com a mente dividida. A preocupação ou inquietação divide a mente entre as coisas úteis e as coisas prejudiciais; entre a confiança em Deus e a incredulidade. Por outro lado, acaba por fazer com que tomemos atitudes na carne, por termos a não certeza de que Deus está a cuidar de nós. Esta dualidade de pensamento é totalmente reprovada pelas Escrituras, pois acarreta uma divisão, separação e distração de Deus. Nenhum homem consegue ficar ansioso e confiar em Deus ao mesmo tempo, pois a ansiedade destrói a confiança em Deus. A inquietação não muda nada, apenas serve para desviar o nosso olhar de Deus e da sua fidelidade e justiça.

O apóstolo Paulo recomenda que a nossa caminhada deve ser feita “olhando firmemente para o Autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado a destra do trono de Deus” Hb 12:2.

Com a ansiedade em vez de nos concentrar-nos em Deus, passamos a preocupar-nos com as coisas concernentes a vida, tais como posses e bens materiais. A preocupação abre caminho para o mundanismo, isto é para a preocupação das coisas concernentes a vida.

Em conclusão, a preocupação é o posto da fé e segure que Deus não é digno de confiança para cuidar da nossa vida, e suprir as nossas necessidades. Considero que a ansiedade é uma desconsideração a Deus, que tantas mostras nos deu na Sua fidelidade e do Seu poder. O nosso Mestre recomenda-nos “Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; ou pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? (…) Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” Mt 6:25, 31-32.

 

Religiosidade
Por vezes, devido a alguma situação mais difícil na vida, acabamos por aproximarmos de Deus; e para a nossa alegria vimos a resposta de Deus a nossa prece. Com o passar do tempo pode haver o hábito de levar uma rotina religiosa, apenas com o objetivo de obter algum favor de Deus. Contudo, ao andar com Deus, vamos aprendendo o Amor de Deus, e apercebendo-nos que Deus, como nós, quer ser amado incondicionalmente, quer nos responda as nossas orações, quer não responda.

O crente, com o tempo, é levado a buscar a Deus pelo Seu amor, que o salvou da morte eterna e lhe deu um lugar no céu. A Bíblia, descreve que várias vezes, Deus testou o amor dos seus servos, como no caso de Abraão. Abraão, por várias vezes viu o seu amor por Deus ser testado. Por exemplo, depois de Deus prometer um filho a Abraão, passou-se muito anos; e depois de o ver nascer, Deus pede a Abraão o seu filho, como prova do seu amor e temor:” Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te a terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” Gn 22:1-2. Abraão, mostrou um grande temor a Deus e um amor ao seu Criador maior ao que tinha pelo seu filho “Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; (…) Chegaram ao lugar que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele dispôs a lenha , amarrou a Isaque, seu filho, e o deitou no altar, em cima da lenha (…) Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” Gn 22:3,12.

O nosso Mestre definiu como o resumo de todos os mandamentos, apenas dois mandamentos:“(…)Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” Lc 10:27.Oprimeiro mandamento indicado por Jesus, indica-nos que o nosso amor a Deus deve ser maior do que tudo que possa haver na nossa vida, incluindo familiares, carreira, casa, etc. Esse amor com todas as nossas forças deve fazer-nos colocar a disposição de Deus tudo o que temos, tudo o que somos, como fez Abraão. A nossa vida passa a ser dependente da Sua vontade, do Seu Espírito e da Sua direção. Esse amor leva a colocar Jesus como a prioridade da nossa vida pois ele é dono da nossa vida e nós, somos seus servos.

Assim, na caminhada com Deus somos levados a deixar de aproximar-nos de Deus apenas porque precisamos de um favor ou um milagre Seu. Aproximamos-mos Dele porque o amamos, porque sabemos que somos dele e vivemos para Ele. Por vezes, alguns crentes, acabam por não desenvolver o seu amor por Deus, e acabam por ver Deus como alguém que existe para abençoa-los, cura-los, para servi-los e salva-los.

Apesar, de Deus na sua misericórdia atender as orações, destes crentes, a quem pode-se chamar religiosos, eles continuam a andar em pecado, pois a motivação deles no relacionamento com Deus é errada, pois esquecem-se que Deus é quem merece ser servido, pois o nosso Senhor é o dono na nossa vida.

Portanto, todas as escolhas, todos os desejos deveriam passar primeiro pelo escrutínio de Deus, para a sua aprovação ou não. O crente e então, faria apenas o que Deus lhe mandasse fazer, pela fé de ser abençoado, e não faria o que lhe apetecesse na espectativa que Deus lhe abençoasse. O religioso, apesar de chamar Jesus de Senhor, acaba por ser o senhor da sua vida, pois é ele que decide o que quer fazer e não o seu Salvador Jesus Cristo.

 

Trevas
Jesus Cristo, o nosso Mestre, é a luz do mundo; e quem o segue não andará em trevas (Jo 8:12).Quando deixamos de andar segundo a vontade de Deus, descrita na Sua Palavra, andamos nas trevas. Na Bíblia, a Palavra de Deus é descrita como a luz para os nossos caminhos: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os meus caminhos.”Sl119:105.

Depois de aceitarmos Jesus Cristo como Senhor e Salvador das nossas vidas e de sermos habitados pelo Espírito Santo, deixamos de ser trevas e passamos a ser luz, como nos diz o apóstolo Paulo na epístola aos Efésios: “ Pois outrora éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” Ef 5:8. Agora, portanto, temos andar na luz que “(…) consiste em toda a bondade, e justiça e verdade” Ef 5:9. Andar nas trevas consiste em fazer obras que são más para Deus e que estão indicadas na Bíblia Sagrada como condenáveis.

Por isso o crente deve evitar o caminho das trevas não praticando as obras condenadas na sua Palavra como ódio, ciúmes, prostituição, lascívia, feitiçarias, inimizades, bebedices, glutonarias, entre outras coisas (Gl 5:19-20). A Palavra de Deus indica com veemência que o ódio quando presente no coração do cristão faz com que ele ande em trevas. O apóstolo João na sua primeira epístola diz que “Aquele que diz que está na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas.(…) Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” 1Jo 2:9,11.

Contudo, andar nas trevas também pode consistir em deixar de praticar as obras recomentadas pelo nosso Mestre e indicadas também pelo apóstolo Paulo na epístola aos Romanos:“ No zelo não sejais remissos; sede fervorosos de Espírito, servindo ao Senhor; regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes; compartilhai as necessidades dos santos; praticais a hospitalidade; abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” Rm 12:11-14. Tenho sentido claramente, que quando amaldiçoamos alguém, em vez de abençoarmos como nos recomenda o nosso Mestre (Mt 5:44), ficamos em trevas e o Espírito Santo entristece-se.

O nosso Senhor e Mestre diz-nos em Apocalipse “ Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!”Ap 3:15. O crente pode tornar-se morno quando deixa de ter zelo, fervor pela vontade de Deus, e torna-se desinteressado e indiferente em relação a palavra de Deus e em relação ao próximo.

Quando o crente anda em trevas torna-se um campo reprodutor de obras da carne, deixa de estar habituado a fazer a vontade do Espírito Santo, ou seja, perde a disciplina espiritual. Deus deseja que permaneçamos nos seus caminhos, e também abertos, leais, honestos, constantes e que sejamos “quentes” na fé. Devemos termos sempre um coração ensinável, a abandonar o orgulho e autojustificação. Deus quer que nos tornemos puros, santos e separados do muno.

 

Soberba
Por vezes, no ser humano existe a tendência de ter orgulho pelo que se faz, mas sempre comparando com aqueles que estão a sua volta. A comparação com o próximo, acabada por tornar o orgulho, ou satisfação pelo que se fez, em algo desagradável a Deus, num critério para menosprezar o próximo que não realizou a mesma obra.

Sem dar-se conta, o homem nessas situações sente-se maior dos que os outros, num pedestal. Esse sentimento pode crescer de tal forma, que ele se esquece que foi Deus, o seu criador, que o capacitou com os dons que ele tem, e por isso é o único responsável pela realização da obra de que se gaba, e que lhe serve de motivo para menosprezar o seu próximo “Pois que é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se não tiveras recebido?” 1 Co 4:7.

Isso é retratado pelo Metre com a parábola do fariseu e o publicado:” O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou dízimo de tudo quanto ganho ”Lc 18:11-12. Contudo o publicano que estava de pé ao longe, não ousava levantar os olhos ao céu e clamava pelo perdão de Deus, pois considerava-se pecador. Deus ao ouvir as duas orações, perdoou o publicano, mas não atentou para a oração do fariseu. “ O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” Lc 18:13.Sobre o publicano o Mestre diz-nos “ Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo aquele que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” Lc 18:14.

A Bíblia descreve que Deus não se agrada dos soberbos, mas que dá a sua graça a aqueles que se humilham e que reconhecem que sem Deus nada podem fazer pois Deus é o responsável de todas as coisas: “(…) cingi-vos de toda humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça”1Pe 5:5.Por isso, o apóstolo Pedro aconselha-nos: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte,” 1 Pedro 5:6.

 

Astúcia
Na Bíblia, a astúcia por vezes tem uma conotação negativa, quando são usados meio ilícitos para atingir determinados fins. O nosso Mestre, Jesus Cristo, indica-nos na parábola do administrador infiel, como uso da astúcia pode ser prejudicial para alcançar a vida eterna, e como Deus condena o uso de métodos obscuros para a administração da vida que nos foi confiada, para que exercêssemos mordomia.

O nosso Senhor Jesus, no final, solicitará a prestação de contas a todos nós e dirá o que pensa da gestão que fizemos dos talentos que nos foram confiados como fez na parábola do administrador infiel: “ E elogiou o senhor o administrador infiel porque se houvera atiladamente, porque os filhos deste mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz” Lc 16:8.

O nosso Mestre mostra-nos a opinião que teve do administrador, que após roubar ao seu senhor e ser descoberto, resolveu chamar a todos os que deviam ao seu senhor, e em troca do pagamento de uma parcela da dívida o administrador declarava as dívidas como pagas. O nosso Mestre mostra que, o administrador, apesar de ter conseguido que o seu senhor recebesse parte dos dinheiros que lhe deviam, o administrador mostrou ser um filho das trevas, um filho “deste mundo”, pois foi capaz de usar métodos ilícitos, astúcia, para atingir os seus fins. Por isso o Senhor Jesus acrescenta:”E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos” Lc 16:9. Com estas palavras o Senhor Jesus mostra que atitudes iniquas, cheias de astúcia, não nos levam ao reino celestial.

Na nossa vida, o tempo deve ser usado com sabedoria, de acordo com a Palavra de Deus; os talentos devem ser compartilhados para edificar os outros e glorificar a Deus; o dinheiro deve ser gasto para suprir as nossas próprias necessidades e dos que nos cercam.

 

Vaidade da mente
A vaidade, na Bíblia é muitas vezes descrita como aquilo que é fútil, que não acrescenta nada de substancial a nossa vida. No fundo, a vaidade é tudo aquilo que não ajuda a nossa caminhada com Cristo, e nos desvia do principal objetivo da nossa vida que é amar e honrar ao nosso Deus.

Antes da nossa conversão, na nossa vida como incrédulos, fazíamos muita coisa que não contribuía para a nossa relação com o nosso Pai celeste; que serviam apenas para dar um significado passageiro a nossa existência e depois no dia a seguir, deixava de ter significado, tínhamos de arranjar outro objetivo para nos motivar a viver o dia seguinte. A vaidade indica um estilo de vida dirigido por concupiscências que apenas prometem alegria, mas não oferecem, pois a nossa alma apenas é satisfeita com verdadeira comunhão com Deus. Outros caminhos não satisfazem, são enganosos, pois são caminhos pecaminosos.

O apóstolo Paulo na sua epístola ao Efésios aconselha-nos “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos” Ef 4:17.



Necedade
Os cristãos devem estar atentos, pois as circunstâncias que os cercam muitas vezes podem os levar ao pecado. Avinda do Senhor está próxima, e ninguém sabe qual é a hora da Sua vinda, a não ser o Pai. Por esta razão os cristãos devem andar em temor e estar prontos para prestar contas da mordomia que têm efetuado do seu tempo, dons, talentos, e de toda a sua vida; pois o Senhor Jesus pode voltar para buscar a Igreja a qualquer momento.

O nosso Mestre, o Senhor Jesus, ilustra a necessidade de termos de estar prontos para a sua vinda, com a parábola das dez virgens e prontos para a prestação das contas com a Parábola das dez minas: “ Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou chamar os seus servos a quem dera dinheiro, a fim de saber que negócio cada um teria conseguido” Lc 19:15. Dois dos servos tinham feito multiplicar o dinheiro que o Senhor dera, contudo, um deles, não se preocupou em fazer prosperar ao seu senhor e escondeu o dinheiro. Essa atitude foi totalmente condenada pelo seu senhor, que o chamou de “servo mau:” Respondeu-lhe o senhor: servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não semeei; porque não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda, o receberia com juros.” Lc 19:22-23.

Na parábola das dez virgens O Senhor Jesus descreve-nos que podem haver duas atitudes em relação a Sua vinda: a atitude das virgens néscias e a atitude das virgens prudentes. As virgens néscias representam aqueles que não se preparam para a vinda do Noivo, e por isso, como as néscias, não se munem com azeite para as suas lâmpadas. As virgens prudentes, são aqueles que vigiaram a vinda do seu Noivo, munindo-se com uma botija de azeite para as suas lâmpadas.

Nós somos a luz do mundo e por isso temos de iluminar como as candeias; o nosso azeite é o Espírito Santo, que alimenta nossa candeia e faz brilhar a nossa vida. Por isso, devemos fazer tudo para alimentar a chama do Espírito Santo em nossas vidas, fazendo tudo para agradar-lhe e evitando tudo o que possa entristecer o Espírito Santo.

Assim, devemos ser como as virgens prudentes e como os servos, que quando chamados pelo seu senhor para prestar contas, tinham multiplicado o dinheiro confiado. Devemos seguir o conselho do apóstolo Paulo “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” EF 5:15.



Murmuração
Ao longo da caminhada com Deus, surgem muitas vezes situações difíceis, que gostaríamos de ver rapidamente resolvidas. Contudo, por vezes, constatamos que a resposta de Deus tarda, e não vemos a resolução da situação como gostaríamos. Nestas circunstâncias, a nossa carne, e também o inimigo das nossas almas, o diabo, quer levar-nos a duvidar da presença de Deus e do Seu Poder.

Deus define como um dos principais mandamentos, o amarmos a Deus acima de todas as coisas, tanto de todas pessoas como a cima a nós mesmos, e em qualquer circunstância; mesmo aquelas circunstâncias onde vemos o nosso conforto posto em causa. O nosso amor por Deus deve ser maior do que a nós mesmos, e maior do que a nossa necessidade de conforto e de vermos o que precisamos ser-nos concedido. ”Amará, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o tua força” Dt 6:5.

O povo israelita, depois de sair do Egito, demostrou ingratidão a um Deus que tinha demonstrado um grande Poder, libertando-lhes da escravidão do Egito, com milagres, prodígios e sinais. Por muitas vezes o povo israelita duvidou da presença de Deus, da sua capacidade de prover o que necessitavam e de leva-los até a terra prometida. Essa atitude de dúvida levou a rebelarem-se contra Deus e a praticarem ações abomináveis como a criação de um deus de bezerro para adorarem e a tentativa de regressar a terra do Egito onde tinham sofrido uma dura escravidão.

Essa atitude de rebelião contra Deus, acabou por fazer com que Deus não os deixasse entrar na terra prometida de Canaã, principalmente quando o povo perante o testemunho dos doze espias, que tinham regressado de Canaã, tem um atitude de incredulidade murmurando contra Deus e contra Moisés. ”Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite” Nm 14:1. As palavras do povo de Israel demonstraram uma grande ingratidão e também incredulidade perante um Deus que os tinha libertado da escravidão com grande poder:” Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e todo a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E porque nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito?” Nm 14:2-3.

Todos nós, cristãos, devemos estar atentos aos nossos pensamentos e as nossas ações e devemos temer o Nome do Senhor para não cairmos no pecado da incredulidade, enquanto caminhamos em direção a nossa Pátria celestial, a Terra Prometida. O povo de Israel tornou-se um exemplo para nós, cristãos, de como não devemos comportar-nos; e também, um exemplo das consequências da murmuração na vida cristã: a murmuração pode impedir o cumprimento das promessas de Deus; a murmuração mostra falta de amor por Deus e entristece o Seu coração. A Bíblia demonstra que apenas chegaram a terra prometida aqueles que creram em Deus em todas as circunstâncias e escolheram sempre a direção indicada por Deus como Calebe e José.

O autor da epístola aos Hebreus, em relação ao povo israelita que saíra do Egito, diz-nos: “Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que foram desobedientes? Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade.”Hb 3:16-19.

Por isso o autor da epístola aos Hebreus aconselha-nos a não cair no pecado da desobediência, causado pela incredulidade: “Visto, portanto, que entrarem alguns nele e que, por causa da desobediência, não entraram aqueles aos quais anteriormente foram anunciadas as boas novas, (…) Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência.” Hb 4:6,11.

O apóstolo Paulo deixa-nos um conselho na sua epístola aos Filipenses “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” Fp 2: 14, 15.

Na primeira epístola aos coríntios o apóstolo Paulo exorta-nos, tomando como exemplo, o povo israelita que saíra do Egito: “Não ponhamos o Senhor a prova, como alguns já fizerem e pereceram pelas mordidas das serpentes. Nem murmureis, como alguns deles murmuraram e forma destruídos pelo exterminador.” 1Co 10: 9-10.



Concupiscência
A carne é descrita na Bíblia como algo contrário ao Espírito, que milita, luta contra o espírito (Gl 5:17), e que é inimiga de Deus “ porque o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeita a lei de Deus, nem mesmo pode estar” Rm 8:7.

A carne inclina-se para o prazer imediato, para a posse de bens, e tem tendência de superestimar a si mesma. O mundo é um sistema organizado que se opõe a Deus e é motivado pela concupiscência da carne, pela concupiscência dos olhos e pela soberba da vida. O apóstolo João descreve na sua primeira epístola que Deus não ama o que existe no mundo, ou seja, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e soberba da vida. Por isso quando o homem deixa-se levar por estas concupiscências não é alvo da aprovação de Deus. “porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” 1Jo 2:16.

A concupiscência da carne, motiva o homem a viver para obter o prazer imediato, ou seja, a viver para atender os desejos, apetites e impulsos imediatos, independentemente das consequências. A carne alicia o homem a e procurar obter o que deseja, sem ter em conta a vontade de Deus; e sem controlar as consequências dos atos.

Foi a concupiscência da carne, a vontade de atender ao seu desejo, sem se importar com as consequências que levou a Davi ao pecado, a tomar a mulher de um comandante do seu exército,o Urias:“ Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que era mui formosa (…) Então enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com ela”2Sm 11:2,4. Mais tarde vendo que as consequências foram graves, pois ela engravidara, tentou resolver a situação com o homicídio de Urias “A mulher concebeu e mandou dizer a Davi: Estou gravida. (…) Pela manhã, Davi escreveu uma carta a Joabe e lha mandou por mão de Urias. Escreveu na carta, dizendo: Ponde Urias na frente da maior força da peleja; e deixai-o sozinho, para que seja ferido e morra.”2Sm 11:5, 14-15.

Devido aos efeitos negativos da concupiscência da nossa vida, o apóstolo Paulo recomenda-nos: “mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para carne no tocante às suas concupiscências” Rm 13:14. Na epístola aos Gálatas o apóstolo Paulo diz ainda: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis a concupiscência da carne” Gl 5:16.

O apóstolo Pedro, sobre a concupiscência da carne aconselha-nos “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma,” 1Pe 2:11.

Por isso, precisamos de remir o tempo; e no tempo de vida que temos, não devemos viver de acordo com as paixões carnais, mas segundo a vontade de Deus: “para que, no tempo que nos resta na carne, já não vivais que acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” 1Pe 4:2.

A concupiscência dos olhos, por sua vez, resulta na ambição, no desejo de possuir o que se vê ou o que é belo.

Muitas vezes a concupiscência dos olhos, a ambição de possuir o que vemos ao nosso redor, está interligado com um crescente amor ao dinheiro, pois este é a forma mais direta de possuirmos o que nos atrai.

O amor ao dinheiro acaba por ser um grande mal, pois torna o homem vulnerável as tentações, e desvia-o do seu verdadeiro objetivo, que é amar a Deus; pois passa a viver para amar-se a si mesmo, para o satisfazer os seus desejos ao invés dos desejos de Deus. O dinheiro, ilude a que o tem, e também a quem não o tem, pois dá a ilusão que quem o possui tem a verdadeira felicidade, pois tem tudo o que deseja. “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” 1Tm 6:9.

Contudo, esse amor ao dinheiro, acaba por traduzir-se em avareza, cobiça, e cedo a pessoa acaba por ficar totalmente nas trevas, porque já não ama a Deus, já não ama ao próximo, porque inveja o que os outros têm e porque vê os outros como um fim para a satisfação dos seus desejos.

Sobre o amor ao dinheiro, o apóstolo Paulo diz na sua primeira epístola a Timóteo “Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” 1Tm 6:11.

As verdadeiras riquezas são invisíveis, eternas e não se traduzem em bens matérias; por isso o nosso Mestre disse “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância de bens que possui” Lc 12:15.

Por isso o apóstolo Paulo diz a Timóteo: “ Exorta os ricos do presente século que não sejam orgulhos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos em dar e prontos para repartir; que acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida.” 2Tm 6: 17-19.

Para explicar que a abundância de bens não garante a vida eterna, e que entesourar para nós mesmos não é o mesmo que ser rico para Deus, o nosso Mestre conta numa parábola, que um homem após obter uma colheita abundante, planeou contruir celeiros para guardar os seus produtos, e então disse para si mesmo: “Então direi a minha alma: tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te” Lc 12:18. Mas Deus vendo a atitude dele, os seus pensamentos disse: “(…) Louco, esta noite pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” Lc 12:20-21.

Por isso os cristãos devem fixar a sua atenção nas coisas eternas, celestiais; porque as que se veem são passageiras e não constituem a verdadeira riqueza.

As concupiscências são muito utlizadas pelo inimigo das nossas almas para tentar o homem. A Bíblia aponta entre outros exemplos, duas pessoas que foram sujeitas a tentação: Eva e Jesus Cristo, o nosso Senhor.

Eva depois de ouvir as palavras da serpente, desejou o fruto que Deus tinha proibido de comer e caiu na tentação de comer o fruto. “Vendo a mulher que árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” Gn 3:6.

A serpente utilizou a concupiscência da carne (arvore boa para comer), a concupiscência dos olhos (agradável aos olhos) e a soberba da vida (arvore desejável para dar entendimento) para tentar Eva e conseguiu que ela caísse na tentação.

Contudo, o diabo utilizou as mesmas armas para tentar o Senhor Jesus mas não conseguiu que o nosso Mestre pecasse, ou seja, que o nosso Mestre caísse na tentação. O diabo utilizou para tentar o Senhor Jesus a concupiscência da carne (manda que estas pedras se transformem em pães Mt 4:3), a concupiscência dos olhos ( (…) o levou a cidade santa, colocou-o sobre um pináculo do templo e lhe disse (…) atira-te abaixo porque está escrito(…) Mt 4:6) e a soberba da vida (“mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles Mt 4:8).

Jesus Cristo foi tentado em todas as coisas, como nós, mas sem pecado; por isso pode compadecer-se de nós:” Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” Hb 4.15.

Por isso, o nosso Senhor Jesus Cristo sabe o que sofremos quando somos tentados e pode compadecer-se de nós. “Pois, naquilo em que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” Hb 2:18.

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